Após chegarem
(finalmente) ao consenso de que o Produto Interno Bruto (PIB) não é uma
ferramenta adequada para medira riqueza de um país, os líderes que se reuniram
durante a Rio+20 pediram para que pesquisadores apresentassem outras
ferramentas para substituí-lo. Uma das alternativas, que também foi apresentada
durante a conferência no Rio é o Índice de Riqueza Inclusiva (IRI), criado pela
Universidade das Nações Unidas e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA). Esse índice busca incluir o capital humano (salários, níveis de
escolaridade), capital manufaturado (produtividade)
e capital natural (florestas, pesca, combustíveis fósseis, minerais e terra de
cultivo e pasto). O mérito desse índice é o de medir a riqueza de uma nação por
diferentes componentes, e não somente o produto interno bruto ou a renda per
capita. É uma tentativa de incorporar na economia a preocupação com as gerações
futuras. No entanto, é uma perspectiva
bastante limitada, pois os recursos naturais, ou “serviços dos ecossistemas”
são vistos como bens ou mercadorias que podem ser contabilizadas. Dessa forma,
uma terra de cultivo pode ser considerada um capital natural, mesmo que tenha
sido criada à custa de desmatamento de florestas e mesmo que use grandes
quantidades de agrotóxico. É um cálculo meramente quantitativo que acaba por
não levar em consideração elementos que não podem ser mercantilizados - como
biodiversidade, paisagens, proteção de
áreas das quais dependem índios, coletores, pescadores, etc. ; além de não levar em conta a forma como o recurso é utilizado nem a destinação da produção (se para a comunidade local ou para exportação, por exemplo).
Esse índice demonstra
uma clara tentativa de preservar o modelo capitalista, permitindo que o modelo
de exploração dos recursos existente hoje continue nas próximas gerações. Segundo o relatório, desenvolvimento
demográfico é o principal motor por trás de mudanças no capital natural (e não
a intensidade do consumo). Além disso, esse índice não leva em consideração o
fluxo de capital natural dos países emergentes para os países desenvolvidos.
Dessa forma, um país rico que importa recursos naturais pode muito bem
preservar seus recursos e elevar seu índice de capital natural à custa da
exploração de recursos dos países pobres.
Segundo esse
relatório, 70% dos países analisados em 2012 apresentam um IRI positivo,
indicando sustentabilidade (?!). Também afirma que a inovação tecnológica e os ganhos
de capital petrolífero superam o declínio em capital natural e danos causados
pelas mudanças climáticas, colocando um número de nações na direção da
sustentabilidade.
Quando perguntado
sobre essas questões, Dr. Pablo Munoz, Diretor Científico desse relatório
afirmou que “esse é um indicador monetário sobre a base produtiva da economia”.
Segundo ele, a questão da biodiversidade e das áreas de preservação foi
excluída dos cálculos, pois “apesar de importantes, foi decidido que elas não
contribuem diretamente para a base produtiva da economia nacional”.
Ou seja, temos novamente
um índice meramente econômico, incluindo os recursos naturais apenas na medida
em que são úteis para as indústrias e para a perpetuação de um capitalismo desigual
e não inclusivo. No relatório aparece a seguinte frase a respeito das áreas de preservação: “Essa pode ser uma
questão que foge do campo decisório da economia simples, mas que deve existir
no domínio da ética e da teoria do valor moral”. Realmente, suas palavras confirmam que a
economia continua divorciada da ética e da moral. Então, que economia é essa? A
quem ela serve?